Os pais estão de tal forma convencidos de que o seu amor pelos filhos é incondicional que se maltratam constantemente. E fazem-no de cada vez que deixam que os filhos os magoem, aceitando a ofensa sem protestar, imaginando que o seu papel é o de um saco de boxe que se esmurra para libertar a irritação.
Enganam-se a si mesmos porque não há ninguém, nem mesmo um pai e uma mãe, que não se revolte contra quem o ofende, e esses ressentimentos acumulados acabam por ferir profundamente a relação. Os pais podem não responder à letra, ouvir e fingir que são surdos, podem até continuar a “servi-los”, mas o amor e a confiança deterioram-se.
Basta escutar a mágoa com que contam, entre amigos ou na reunião da escola, como o adolescente os humilhou, como «olha para nós e não nos vê», exigindo tudo sem dar nada em troca, para perceber que se abriram feridas que é urgente tratar. Todos os adolescentes são egocêntricos, ponto assente.
E sim, os pais só precisam de puxar pela memória para recordar como uma borbulha na cara parece o fim do mundo, mas cabe-lhes fazê-los ver que as relações são caminhos de duas vias, em que se dá e se recebe. Em que ignorar aqueles de quem gostamos, confiantes de que o seu amor por nós os impede de se revoltarem, é bullying. Que na vida mais ninguém os aturará.
Educar não é ser o cobrador do fraque, mas implica assumir a autoridade inerente ao cargo, sem medo do confronto e do conflito, na certeza de que é preciso agitar as águas para que voltem a ser transparentes. Como escreve o psicanalista francês Aldo Naouri, os pais devem comportar-se de forma a ser motivo de orgulho para os filhos, mas têm todo o direito de exigir que os filhos sejam seres humanos que não os envergonhem.
*Querida H, obrigada por mais esta partilha.
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