terça-feira, 9 de abril de 2013

A Passagem das Horas

Trago dentro do meu coração, 
Como num cofre que se não pode fechar de cheio, 
Todos os lugares onde estive, 
Todos os portos a que cheguei, 
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias, 
Ou de tombadilhos, sonhando, 
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero. 


(...)

Sentir tudo de todas as maneiras, 
Viver tudo de todos os lados, 
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, 
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos 
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo. 


(...)

Sentir tudo de todas as maneiras, 
Ter todas as opiniões, 
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto, 
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito, 
E amar as coisas como Deus. 



Álvaro de Campos

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